Enquanto nos Estados Unidos uma decisão recente do presidente Donald Trump abre portas para o uso de criptoativos em planos de aposentadoria, aqui no Brasil, o cenário é bem diferente. Os fundos de pensão ainda são proibidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) de investir em Bitcoin e outros ativos digitais.
Isso acontece em um momento em que o mundo começa a abraçar as criptomoedas, e pensar em aposentadoria usando Bitcoin (BTC) já não parece tão maluco assim. Mas, é claro, é preciso ter em mente os riscos dessa montanha-russa chamada volatilidade, além de fatores externos, como questões econômicas e políticas internacionais.
No Brasil, existem algumas opções de previdência privada que oferecem um acesso limitado a criptoativos de forma regulamentada. Mas quem quer se aposentar exclusivamente em Bitcoin precisa de um bom planejamento financeiro, que considere detalhes como a possibilidade de valorização do BTC, a inflação e, claro, a desvalorização do real. Definir um teto de gastos mensal também é fundamental para garantir que o patrimônio não se esgote antes da hora.
Afinal, quanto Bitcoin é necessário para garantir uma aposentadoria confortável?
A resposta a essa pergunta varia bastante e depende muito das metas de cada um. A analista Rafaela Romano, que é fundadora da SecondB, se debruçou sobre o assunto para trazer uma visão mais precisa. Usando uma metodologia bem estruturada e levando em conta salários mensais variados, ela fez uma análise que ajuda a entender melhor a quantidade de Bitcoin necessária para uma aposentadoria tranquila.
Ela começou a pesquisa com um estudo publicado nas redes sociais que estimava quanto Bitcoin seria necessário para se aposentar em 2035 em diferentes países. Para o Brasil, a previsão ficava entre 0,3 BTC e 0,7 BTC, dependendo da idade do investidor e considerando uma expectativa de vida de até 100 anos.
No entanto, Rafaela apontou que a premissa do estudo original era questionável, já que considerava que R$ 4.000 por mês seriam suficientes para uma aposentadoria decente. Ajustando os números, ela trouxe novos valores que fazem mais sentido, levando em conta uma perspectiva de renda mensal de R$ 5.000, R$ 10.000 e até R$ 30.000, considerando a inflação que pode girar em torno de 7% ao ano nos próximos 15 anos.
Por exemplo, para ter o mesmo poder de compra de R$ 5.000 em 15 anos, você precisaria de cerca de R$ 13.000 mensais no futuro. Se pensarmos em R$ 10.000, o valor sobe para R$ 27.000, e uma renda de R$ 30.000, já corrigida, chegaria a impressionantes R$ 82.000.
Para garantir que o capital destinado à aposentadoria não acabe cedo demais, Rafaela sugeriu uma taxa de saque anual de 4% do total, ajustada pela inflação. Assim, para quem deseja retirar R$ 5.000 por mês, seria necessário um patrimônio inicial em torno de R$ 1,5 milhão.
Por fim, ela utilizou o que chama de Bitcoin Power Law para prever a valorização do BTC. Esse modelo sugere que o preço do Bitcoin deve crescer de forma exponencial, embora essa trajetória desacelere com o tempo. Com isso, Rafaela projetou três cenários para o preço do Bitcoin em 2040, considerando diferentes taxas de retorno.
Patrimônio necessário fica entre 0,075 BTC e 5,54 BTC
Ao combinar os valores necessários para uma aposentadoria, levando em conta a renda mensal desejada, a Regra dos 4% e a inflação, Rafaela calculou quanta Bitcoin seria necessária dependendo do cenário otimista, moderado ou pessimista. Em muitos casos, menos de 1 BTC seria suficiente.
Para quem busca uma renda mensal de R$ 5.000 nos dias de hoje (o equivalente a R$ 13.000 em 2040), no cenário mais favorável, seriam necessários entre 0,075 BTC e 0,083 BTC. Para uma renda de R$ 10.000 (R$ 27.000 em 2040), o valor demandado subiria para entre 0,15 BTC e 0,16 BTC. Agora, para aspirar a uma aposentadoria que garanta R$ 30.000 (R$ 82.000 em 2040), o patrimônio inicial exigiria entre 0,45 BTC e 0,5 BTC.
Em um cenário padrão, os números ficam em torno de 0,16 BTC a 0,26 BTC para R$ 5.000; de 0,32 BTC a 0,52 BTC para R$ 10.000; e entre 0,96 BTC a 1,5 BTC para R$ 30.000. Já na projeção mais pessimista, os valores vão de 0,44 BTC a 0,92 BTC para R$ 5.000; de 0,89 BTC a 1,8 BTC para R$ 10.000; e impressionantes valores entre 2,68 BTC e 5,54 BTC para R$ 30.000.
Antes disso, Rafaela já havia realizado um estudo parecido, tentando descobrir quanto Bitcoin seria necessário para se tornar milionário no futuro. Fica claro que o planejamento para a aposentadoria utilizando criptomoedas é um tema que requer atenção e cuidado.
