Mineração de bitcoin: solução para perdas com energia renovável no Brasil
Empresas que geram energia renovável estão olhando para a mineração de Bitcoin como uma forma de aproveitar a eletricidade que sobra de suas usinas. Essa ideia surge como uma solução prática para contornar os cortes de produção que, de vez em quando, são impostos pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Esses cortes podem acontecer quando não há demanda suficiente para a energia gerada ou por problemas técnicos na rede elétrica.
O ONS é responsável por coordenar a geração e a distribuição de energia no Brasil, e ele pode exigir que usinas, especialmente as eólicas e solares, reduzam ou até interrompam a produção. Isso geralmente ocorre em momentos em que a oferta de energia ultrapassa a demanda, ou quando a capacidade de distribuição da rede já está atingindo o limite. Em alguns parques, as restrições podem superar 40% da produção total, resultado em prejuízos significativos. A Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) estima que, entre meados de 2023 e julho deste ano, esse prejuízo acumulado chegue a R$ 4 bilhões.
A mineração de Bitcoin, que consome bastante energia, aparece como uma alternativa interessante. Ao se instalar centros de mineração perto das usinas, as empresas teriam a chance de usar a eletricidade que seria desperdiçada, minimizando perdas financeiras e, de quebra, gerando uma renda adicional em BTC.
Cinco empresas estão considerando essa possibilidade, entre elas a Casa dos Ventos (com sócia francesa, a TotalEnergies), a Atlas Renewable Energy, a Renova Energia, Engie Brasil e a Auren Energia. Embora tenham sido abordadas pela imprensa, as empresas optaram por não comentar muito sobre o assunto, exceto a Renova Energia. Seu CEO, Sergio Brasil, confirmou que estão avaliando o uso da energia ociosa do complexo eólico Alto Sertão 3, pensando em instalar data centers ou mineradoras de Bitcoin.
José Roberto Oliva, um advogado que entende de criptoativos, acredita que a mineração pode realmente ser uma solução viável. Ele comenta que, ao instalar a mineração próxima à geração de energia, as empresas poderiam reduzir perdas que estão chegando a níveis alarmantes.
Modelos de negócio
As empresas estão explorando diferentes maneiras de utilizar essa energia excedente na mineração. Algumas opções em pauta incluem formar parcerias nas operações de mineração, desenvolver projetos com data centers que tenham mineradoras como clientes ou simplesmente vender a energia diretamente para esses mineradores.
Entretanto, o alto custo para importar equipamentos de mineração e a incerteza sobre os cortes de geração futura ainda dificultam a concretização desses projetos. Gustavo Estrella, CEO da CPFL Energia, vê a ideia como criativa, mas arriscada. Ele observa que, para um investimento desse tipo, é necessário ter uma certa previsibilidade sobre a energia disponível. Para ele, seria um movimento de alto risco, que talvez não mude significativamente o cenário atual.
Enquanto isso, a Tether, uma das líderes no mercado de stablecoins, já anunciou planos de instalar operações de Bitcoin no Brasil, utilizando energia 100% renovável. Eles firmaram um memorando de entendimento com a Adecoagro, um gigante do agronegócio na América Latina, com a intenção de criar um hub de mineração sustentável na região.