Bitcoin e o futuro da moeda digital: EUA como última fronteira
Nas últimas semanas, os Estados Unidos passaram a ver o Bitcoin de forma bem diferente. Ao invés de apenas enxergá-lo como um ativo de mercado isolado, agora o posicionam como uma commodity digital de interesse nacional. Isso aconteceu com o avanço de um marco regulatório que cria padrões unificados para as exchanges e que transfere parte do controle do setor para órgãos que cuidam da competitividade econômica.
Vale mencionar que um relatório recente do Federal Reserve também apontou como os ativos digitais já estão influenciando a política monetária e a formação de reservas internacionais. Esses fatos surgem em um momento de crescimento histórico na adoção institucional do Bitcoin. Para se ter uma ideia, os ETFs de Bitcoin nos EUA já ultrapassaram 62 bilhões de dólares em ativos, e em alguns dias, apenas o fundo da BlackRock conseguiu absorver mais Bitcoin do que todos os mineradores conseguiram produzir. Isso mostra que a conversa não é mais apenas sobre especulação, mas sobre um reposicionamento estrutural do capital global.
Essa mudança está ligada a uma tendência que vem se firmando no mundo inteiro: a superação do estigma que antes pairava sobre as criptomoedas. Antes, as discussões giravam em torno da associação do Bitcoin com práticas ilícitas. Agora, a pauta se concentra em como essas inovações tecnológicas podem, de fato, contribuir para uma nova configuração da economia mundial.
Um exemplo interessante é o perdão presidencial dado a Ross Ulbricht, o fundador do Silk Road, que estava encarcerado por sua suposta relação com crimes envolvendo criptomoedas. Além disso, Changpeng Zhao, da Binance, também enfrentou sanções por não seguir certas regras de conformidade. Esses casos mostram um movimento de mudança e abertura em relação ao mercado cripto.
Os Estados Unidos buscam se posicionar como um lugar atrativo para empresas de serviços ligados às criptomoedas. Fala-se até do país se tornar a “capital cripto” do mundo. Essa não é uma mudança isolada; é parte de uma tendência global que já está em curso nas economias mais desenvolvidas.
Por exemplo, o Japão foi pioneiro no G7, ao incluir o Bitcoin em um cenário regulatório desde 2017, reconhecendo-o como pagamento e exigindo auditorias constantes. A União Europeia também não ficou atrás. Aprovaram o MiCA, um marco regulatório que unifica regras para todos os países do bloco, visando a estabilidade e a transparência nos criptoativos. O Reino Unido, por sua vez, está tentando se firmar como um centro global para ativos digitais, reconhecendo até as stablecoins como forma de pagamento regulamentada.
E o que dizer do Brasil? Recentemente, o país também deu um passo importante ao aprovar a Lei n.º 14.478, que reconhece oficialmente os criptoativos e atribui ao Banco Central a responsabilidade de supervisionar o setor, integrando tudo ao sistema financeiro.
O Banco Central já publicou propostas de resolução para regular as operações cripto por aqui, abordando serviços criptoeconômicos e reconhecendo algumas operações com criptomoedas como operações de câmbio. Além disso, um projeto de lei no Congresso propõe a criação de uma Reserva Estratégica Soberana de Bitcoins (RESBit).
Enquanto isso, vemos importantes polos financeiros surgindo como laboratórios para a nova economia digital. A Suíça tem se destacado com um ambiente regulatório favorável que atrai bancos e empresas de blockchain. Hong Kong está se firmando como uma porta de entrada para capitais digitais na Ásia, ao passo que os Emirados Árabes Unidos criaram jurisdições específicas para atrair empresas do setor, com regras claras e tributos competitivos.
A entrada dos Estados Unidos nesse cenário representa um ponto de virada. Um dado interessante é que cerca de 55% da liquidez institucional global em Bitcoin passa pelo sistema financeiro americano ou por jurisdições ligadas a ele. Isso mostra que o Bitcoin já não é um ativo marginal — ele está se tornando uma parte integral da macroeconomia.
Com o recente marco regulatório, fica claro que o Bitcoin faz parte do futuro do sistema financeiro, não mais como uma alternativa paralela, mas como um ativo regulado. O relatório do Tesouro dos EUA, que deu suporte à aprovação do Genius Act, expôs que 99% das stablecoins que fornecem liquidez para o mercado de criptoativos são lastreadas em dólar americano. Essa informação realça a relevância das criptomoedas nas finanças globais.
Nos próximos anos, o que se vislumbra? O Bitcoin pode se consolidar como uma reserva digital global, um ativo financeiro nas mãos de instituições, ou criar uma estrutura híbrida que una o regulado e o descentralizado. Cada cenário reflete as múltiplas facetas que o Bitcoin apresenta como tecnologia e ativo financeiro.
O que é certo é que o tempo da incerteza ficou para trás. O Bitcoin já não é uma mera possibilidade; ele é uma realidade na economia digital global. Resta agora observar como ele será integrado na nova ordem monetária do século XXI.





