Bilhões movimentados no Brasil e reflexos no mercado cripto global
Se as stablecoins estão dominando o mercado de criptomoedas, o Brasil não ficou de fora dessa discussão. Embora as versões ligadas ao dólar sejam as mais conhecidas mundialmente, as stablecoins atreladas ao real também estão movimentando quantias significativas por aqui.
Um estudo recente da Iporanga Ventures revelou que as stablecoins em real movimentaram aproximadamente R$ 5 bilhões em 2024. Esse crescimento acompanha a digitalização das transações financeiras e a crescente aceitação das moedas digitais entre os brasileiros.
Além disso, um levantamento da Coinbase Data mostrou que o Brasil ocupa a terceira posição em movimentação de transações em cripto no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da Europa. Essa relevância não vem apenas do aumento de investidores, mas também da evolução de soluções que utilizam o real de forma tokenizada, permitindo a circulação do valor em ambientes digitais internacionais de forma estável.
Para lembrar, as stablecoins são criptomoedas cujo valor é amarrado a um ativo estável, como o dólar. As mais conhecidas no mundo são a Tether (USDT) e a USDC, da Circle.
O Cenário das Stablecoins em Real
Entre as stablecoins em real, o BRZ, lançado pela Transfero em 2019, é uma das mais antigas, mas a concorrência aumentou. O mercado hoje conta com várias opções: cREAL, BRLA, BRL1 e BBRL, que estão em constante disputa pela liderança.
Márlison Silva, CEO da Transfero, ressalta que o mercado é vasto o suficiente para que várias empresas possam coexistir. “Conforme o tempo passar, veremos algumas desaparecerem e outras surgirem”, ele declara.
Um exemplo de inovação é a BRL1, lançada no começo de 2024 por um consórcio que inclui nomes conhecidos como Foxbit, Mercado Bitcoin e Bitso. Mesmo sendo nova, já movimenta mais de R$ 5 milhões por dia e deve ultrapassar R$ 100 milhões em volume ainda este ano. A ideia é que essa moeda seja compatível com o Drex e o Pix, facilitando a vida financeira dos usuários.
Por falar no Drex, também está prevista a criação dele como uma nova infraestrutura financeira. O Banco Central deseja que o Drex funcione como uma ponte para a tokenização de ativos e execução de contratos inteligentes. Apesar de alguns verem isso como uma ameaça, os gerentes das stablecoins acreditam que ambos podem coexistir.
Vantagens de Usar Stablecoins em Real
Embora as stablecoins em dólar ainda sejam as principais no cenário global, as opções em real vêm se destacando por oferecer uma solução que dialoga diretamente com a economia local.
Por exemplo, manter suas economias em stablecoins de real evita a variação cambial, algo muito importante para empresas que precisam movimentar valores em reais por questões fiscais. Ter uma stablecoin em real pode simplificar bastante essa gestão.
“Usar uma stablecoin em real permite uma operação mais integrada ao nosso ecossistema financeiro”, destaca Charles Aboulafia, CEO da Cainvest. Isso significa que, além da segurança do lastro, as stablecoins oferecem transações a qualquer hora, sem depender do horário bancário, e a possibilidade de gerenciar pagamentos de forma mais ágil.
Outro ponto curioso é que o futuro do Drex pode impactar o mercado de criptomoedas. No entanto, especialistas como Thomaz Teixeira, da BRL1, afirmam que não há conflito entre os dois modelos. Os dois podem servir a propósitos diferentes e se complementar.
Confiabilidade no Uso das Stablecoins
A confiabilidade de uma stablecoin depende da forma como é mantida sua paridade com a moeda ao qual está atrelada — no caso, o real. Para garantir isso, as stablecoins precisam ter reservas que cubram o total de tokens emitidos. Essas reservas podem estar em moeda fiduciária, títulos públicos ou até ativos digitais.
Por exemplo, o cREAL utiliza reservas em ativos digitais como Bitcoin e Ether, o que o torna um pouco mais vulnerável à volatilidade do mercado. Já o BRZ tem suas reservas em reais e títulos financeiros, confirmando sua solidez por meio de auditoria independente.
Por outro lado, a BRLA se baseia exclusivamente em moeda fiduciária, enquanto a BRL1 combina diferentes tipos de lastros, buscando sempre unir segurança e liquidez.
Essas diferenças nos modelos refletem abordagens variadas em relação à gestão de risco. Contudo, a confiança do usuário permanece essencial, e deve-se buscar sempre informações claras sobre as reservas, auditorias e a capacidade de troca imediata por reais.
O mercado certamente passará por um processo de consolidação, onde as stablecoins com lastro confiável e práticas transparentes se destacarão. Diferentes necessidades do mercado continuarão a garantir espaço para uma variedade de stablecoins, que atenderão a requisitos específicos e segmentos distintos.