Censura pode provocar divisão no bitcoin com hardfork
O Bitcoin, essa criptomoeda tão popular e conhecida, está no meio de um debate delicado que pode levar a uma divisão da rede, também chamada de hardfork. Essa discussão surgiu por conta de crimes graves, como a disseminação de pornografia infantil, e se transformou em um campo de batalha entre desenvolvedores e operadores de nós.
Nos últimos meses, as tensões aumentaram, especialmente após mensagens atribuídas a Luke Dashjr, um importante desenvolvedor. Ele, que mantém o Bitcoin Knots e é fundador do pool de mineração OCEAN, sugere que a única solução para o armazenamento de conteúdo ilegal na rede seria um hardfork. Mesmo com a negativa pública de Dashjr sobre suas intenções, o assunto gerou uma divisão clara entre os grupos do Bitcoin Core e do Knots.
Hardfork no Bitcoin: disputa entre Core e Knots
Essa disputa começou com um tema técnico. Os desenvolvedores do Bitcoin Core estavam explorando a ideia de aumentar o espaço do campo op_return para facilitar o armazenamento de dados que não estão diretamente relacionados a transações financeiras. Isso ajudaria a evitar que informações indesejadas ocupassem espaço desnecessariamente.
Por outro lado, a abordagem do Bitcoin Knots, mantida por Dashjr, é mais restritiva. Eles preferem descartar transações que consideram “spam”. Aqui, já não se falava apenas de eficiência, mas também dos temores de que conteúdos abusivos pudessem ser armazenados na rede.
A proposta polêmica de Dashjr
Recentemente, mensagens divulgadas mostraram que Dashjr acredita que os filtros atuais não são suficientes para evitar que conteúdos ilegais sejam armazenados. A solução dele seria a criação de um comitê de confiança que revisasse os blocos e substituísse os dados suspeitos por provas de conhecimento zero (ZKP). Isso permitiria que os operadores eliminassem conteúdo problemático sem comprometer a validade das transações. Ele chegou a afirmar que “o Bitcoin vai morrer ou teremos que confiar em alguém”.
Essa proposta, no entanto, implicaria uma mudança no consenso da rede, o que inevitavelmente resultaria em um hardfork. Isso dividiria os que aceitam as novas regras dos que pretendem continuar com a versão original.
Risco de censura e precedentes perigosos
A ideia de conferir a um grupo restrito o poder de alterar dados retroativamente desafia a imutabilidade que é uma das bases essenciais do Bitcoin. Com essa possibilidade, não seriam apenas conteúdos ilegais que poderiam ser removidos, mas também dados indesejados por governos ou empresas. Críticos alertam que isso poderia representar o fim da resistência à censura, um dos principais pilares de confiança na criptomoeda.
Além disso, se essa mudança ocorrer, os operadores de nós poderiam ser obrigados a seguir ordens judiciais ou decisões de órgãos reguladores, o que ampliaria o risco de penalidades, tornando a rede mais parecida com os sistemas financeiros tradicionais.
A reação da comunidade
As mensagens que vazaram provocaram reações imediatas e intensas. Luke Dashjr se defendeu afirmando que nunca propôs um hardfork e que seu único objetivo é proteger a rede de abusos técnicos. Ele classificou as reportagens sobre suas declarações como “notícias falsas” e disse que críticos distorcem suas palavras. Contudo, suas respostas apenas aumentaram a desconfiança entre a comunidade.
A situação expõe um ponto vulnerável: como lidar com conteúdos ilícitos em uma rede que é, por sua natureza, imutável. Cada informação registrada fica para sempre na blockchain, o que levanta questões sobre reputação e legitimidade diante de instituições financeiras e governamentais. Essa encruzilhada é complexa e pode ter repercussões significativas para o futuro do Bitcoin.