CEO da Tether alerta sobre riscos da descentralização global
Durante a conferência Plan B, realizada em Lugano, na Suíça, o CEO da Tether, Paolo Ardoino, fez um alerta importante: a humanidade precisa retomar o controle sobre seus sistemas de comunicação e dinheiro. Para ele, isso é fundamental antes que a centralização tecnológica comprometa a liberdade individual de cada um.
Ardoino argumenta que a descentralização não deve ser vista apenas como um conceito técnico, mas como uma necessidade social. Ele ressaltou que a Tether está desenvolvendo projetos, como Holepunch e Pears, que buscam criar infraestruturas digitais autônomas e privadas, totalmente resistentes ao controle centralizado. “Queremos demonstrar que é possível construir algo realmente inovador. Estamos colocando em prática e já está funcionando”, disse.
Segundo ele, por anos, muitos acreditaram que a centralização era uma inevitabilidade. Bancos, redes sociais e grandes plataformas se transformaram em mediadores das interações humanas, desde conversas entre amigos até transações financeiras. Ardoino critica essa dinâmica, afirmando que representa uma perda significativa da autonomia humana.
CEO da Tether: Descentralização é recuperar a liberdade
“A centralização é uma escolha política e cultural, não uma necessidade técnica”, declarou Ardoino. Ele destacou como a sociedade passou de interações diretas, o que chamamos de peer-to-peer, para um modelo controlado por empresas. “As pessoas sempre viveram em comunidades, compartilhando ideias. Agora, tudo é mediado por corporações que filtram nossas palavras e manipulam nossas relações”, enfatizou.
Essa mudança representa uma verdadeira camiseta de força para a autonomia do indivíduo. Plataformas centralizadas não apenas guardam nossas informações, mas decidem o que pode ser dito ou visto, moldando o comportamento coletivo sem dar espaço para transparência. “Depois de milênios evoluindo com liberdade e diversidade, como podemos garantir que o futuro continue humano com esse controle?”, questionou.
Devolver o poder às pessoas
Ardoino acredita que a tecnologia deve ser uma aliada do indivíduo. Portanto, a Tether está explorando ferramentas que funcionam sem intermediários, priorizando a segurança criptográfica e a operação local. “Estamos criando um ecossistema onde a pessoa possui sua inteligência, seu dinheiro e suas conexões”, afirmou. Para ele, descentralizar é um ato essencial para preservar a humanidade.
Usando uma analogia pessoal, Ardoino lembrou que, quando criança, seus professores o incentivavam a pensar por conta própria, sem depender de calculadoras. Ele observa que hoje estamos entregando nossa capacidade de raciocinar às máquinas, o que pode ser bastante arriscado.
A ameaça da inteligência artificial
Ardoino compara o desenvolvimento da inteligência artificial à introdução de calculadoras, mas em uma escala muito maior. “Se deixarmos nossas decisões e criatividade nas mãos de uma IA, estaremos abrindo mão da nossa própria inteligência”, alertou. Para contornar esse desafio, propõe uma nova máxima que ecoa o princípio do Bitcoin: “Not your keys, not your coins. Not your AI, not your intelligence”. Se a inteligência pertencem a uma empresa, ela já não é mais verdadeiramente nossa.
Ele ressalta a importância de desenvolvê-las localmente, processadas em dispositivos individuais e não em servidores de grandes corporações. “Você realmente quer que um robô doméstico dependa de um data center em outro país?”, questionou, ressaltando a impraticabilidade e os riscos dessa dependência.
O limite da luz e o risco moral
Além dos problemas éticos, Ardoino lembrou que até a velocidade da luz impõe limitações à centralização total. Um atraso de apenas 200 milissegundos pode determinar a diferença entre evitar ou causar um acidente. Contudo, o maior perigo reside no aspecto moral. “Empresas com poder concentrado tendem a se corromper. Até mesmo aquelas que se proclamam éticas têm suas falhas”, destacou, fazendo uma crítica a um lema antigo do Google que foi removido do site.
Ele acredita que a única maneira de evitar abusos é criar sistemas abertos, auditáveis e resistentes a qualquer tipo de controle. “Mesmo que a Tether se torne maligna, quero que o sistema continue a proteger o mundo sem depender de nós”, afirmou.
Um futuro de autonomia
Ardoino vislumbra um futuro prático para esse modelo descentralizado. Em um mundo repleto de dispositivos inteligentes, cada um precisará operar de forma autônoma, independente de servidores centrais. “Um poste de luz que ajusta seu consumo energético precisa tomar decisões localmente. Dependendo da nuvem, tudo pode falhar”, explicou.
Na conclusão de sua palestra, ele levantou uma questão mais filosófica: será que conseguimos reverter a entropia? Como evitar que o universo e a sociedade se precipitem em um estado caótico? Para Ardoino, a resposta está no uso consciente da tecnologia, capaz de restaurar a ordem e garantir a liberdade.
“Precisamos devolver o controle ao povo e reconnectar a sociedade às suas raízes. Comunicação e dinheiro devem voltar a ser instrumentos do ser humano, e não das corporações”, finalizou.





