Circuit breakers no DeFi: a complexidade do controle “on-chain”
Os preços das criptomoedas sofreram uma queda acentuada na última sexta-feira, dia 17, com uma onda de liquidações que criou um cenário de volatilidade intensa. Para muitos especialistas, a solução tradicional usada em Wall Street, que poderia oferecer uma “rede de segurança” ao mercado, não seria muito útil no universo das finanças descentralizadas (DeFi).
Nos Estados Unidos, a Nasdaq e a Bolsa de Nova York implementaram circuit breakers — aqueles mecanismos que interrompem as negociações — em resposta à famosa Segunda-feira Negra de 1988. Essas ferramentas foram criadas para dar aos investidores um tempo extra para avaliar e reagir a mudanças rápidas no mercado. No entanto, a realidade do DeFi é bem diferente e, na última sexta, as perdas superaram a marca de US$ 19 bilhões em liquidações de criptomoedas.
Amanda Tuminelli, que é a diretora executiva do DeFi Education Fund e participou de um painel na DC Fintech Week, destacou que “não existe um botão de desligar” nas finanças descentralizadas. Isso porque, no DeFi, tudo funciona com código autônomo. Ela citou exemplos de plataformas como Uniswap, Aave e dYdX, que continuaram operando durante a crise de liquidez, mostrando a robustez dessa tecnologia.
Uma das características centrais do mercado de criptomoedas é sua descentralização. Isso significa que, enquanto a ideia de implementar pausas nas negociações pode fazer sentido no mercado tradicional, no DeFi, isso se torna bastante complicado. Afinal, os ativos digitais estão disponíveis 24 horas por dia, todos os dias do ano.
Com as liquidações, muitos traders que buscavam altos retornos sofreram grandes perdas rapidamente. A situação ficou tão crítica que até empresas que atuam como formadoras de mercado, como a Wintermute, precisaram recuar. É interessante notar que os circuit breakers podem limitar a atividade de negociações, mas, no caso do DeFi, a aplicação pode até provocar mais desordem.
Tuminelli observa que pode ser possível implementar restrições em algumas “interfaces” que conectam diferentes serviços aos protocolos DeFi. Porém, essa abordagem teria suas limitações, já que existem inúmeras interfaces acessando os mesmos protocolos.
Gregory Xethalis, conselheiro geral e sócio da Multicoin Capital, destaca que pode ser tentador tentar adaptar as proteções tradicionais do mercado ao DeFi, mas isso pode acabar piorando as discrepâncias de preços entre plataformas. Em mercados de ações, as negociações costumam ocorrer em uma única bolsa, mas no DeFi, as operações são universais e interconectadas.
Ele ressalta que a implementação de circuit breakers no DeFi poderia resultar em desarticulação, ou seja, em vez de ajudar, poderia atrapalhar ainda mais a situação. As soluções que estamos buscando para essas novas plataformas precisam ser desenhadas especificamente para elas, levando em conta seu funcionamento próprio.
Xethalis também acredita que isso não significa que o DeFi não possa criar suas próprias soluções inspiradas nos mercados tradicionais. Contudo, ele enfatiza a importância de não cair na armadilha de pensar que as soluções do passado funcionarão sempre para o futuro. Afinal, o mercado de criptomoedas atuam em uma escala global e suas dinâmicas são únicas.