CPI da Íris investiga pagamento de milhões em Worldcoin no Brasil
A discussão sobre o escaneamento de íris em São Paulo continua agitando os ânimos. Recentemente, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Íris, na Câmara Municipal, teve um representante da Tools for Humanity (TFH) falando sobre os negócios dela. Essa empresa é a mente por trás do Projeto World ID e da criptomoeda chamada Worldcoin.
O que se revelou é que a TFH paga pelos serviços usando a própria Worldcoin, e o valor depende do número de pessoas que têm a íris escaneada. Jovaneis Oscalices Neto, que trabalha com uma das companhias parceiras da TFH, esteve na CPI e confirmou que recebeu nada menos que 268 mil Worldcoins pela instalação e operação das unidades de escaneamento na cidade.
Ele comentou que a compensação foi boa, mas, como acontece com criptomoedas, a volatilidade do mercado trouxe desafios. “Eu precisei vender uma parte das minhas moedas em um momento desfavorável, o que poderia ter me rendido mais”, explicou Neto. Considerando a cotação da Worldcoin, que estava em R$ 3,74, ele mencionou que poderia ter acumulado mais de R$ 1 milhão. No entanto, a moeda perdeu 60% do seu valor no último ano, o que levanta dúvidas sobre o quanto a TFH realmente pagou por esse serviço em São Paulo.
Pagamento em criptomoeda e desafios operacionais
Neto contou que começou sua jornada em novembro do ano passado, com uma unidade em Sacomã, que funcionou até maio. Depois, abriu uma loja próxima à estação Jabaquara em fevereiro, mas logo enfrentou dificuldades. “No início, a unidade quase não funcionou devido a questões da ANPD (Agência Nacional de Proteção de Dados)”, revelou.
A situação foi semelhante para a unidade no Tatuapé, que operou por três meses e teve baixa procura. Ele explicou que a remuneração da TFH se dividia em duas partes: uma cobria custos como aluguel e funcionários, e a outra estava relacionada ao número de pessoas escaneadas. “Os operadores eram pagos por cada pessoa que verificavam nas lojas. Assim, a soma era o que determinava o total a receber”, detalhou.
A visão da tecnologia e proteção de dados
Apesar das complicações regulatórias, Jovaneis Neto defendeu a TFH e a relevância dela para inclusão social. Para ele, o trabalho oferecido traz uma nova profissão para lidar com os novos desafios que a sociedade enfrenta, como as deep fakes. Ele ressaltou que o poder público precisa acompanhar essas inovações. “Novas tecnologias devem ser vistas como um espaço para educação e inclusão, além de criar políticas públicas que regulem esses trabalhos de forma eficaz”, afirmou.
A presidente da CPI da Íris, vereadora Janaina Paschoal, reforçou a importância do que foi discutido. “O depoente confirmou que a remuneração está diretamente ligada ao número de escaneamentos, mostrando que o volume de dados realmente importa para a TFH”, comentou. Paschoal também destacou que essa coleta de dados não foi suficientemente transparente com o público.
Esses apontamentos abrem um leque interessante sobre a relação entre tecnologia, privacidade e novos modelos de negócios.





