Criminalidade com criptomoedas se torna mais sofisticada, afirma Europol
O uso de criptomoedas e blockchain para atos ilegais está se tornando cada vez mais complicado e criativo. Essa foi a alerta dada por Burkhard Mühl, que lidera o Centro Europeu de Crimes Financeiros e Econômicos (EFECC) da Europol. Durante uma conferência recente sobre finanças criminosas e criptoativos, ele enfatizou a necessidade de investir continuamente em suporte às investigações que envolvem esses crimes.
Mühl destacou que o trabalho para desvendar esses delitos pode ser bem pesado para as agências de segurança da União Europeia. O evento ocorreu entre os dias 28 e 29 de outubro e reuniu especialistas de diversas instituições para discutir como as tecnologias estão sendo mal utilizadas.
Embora os números ainda sejam relativamente baixos comparados a outros crimes financeiros, a Chainalysis revelou um relatório que estima que ao menos US$ 40,9 bilhões foram movimentados por endereços de criptomoedas envolvidos em atividades ilícitas em 2024. Isso não inclui crimes mais tradicionais, como tráfico de drogas, onde as criptos entram apenas como forma de pagamento.
A Europol já se envolveu em várias operações significativas este ano. Entre os casos desmantelados, destaca-se uma rede de cibercrime na Letônia que lavou mais de US$ 330.000, além de uma operação clandestina que movimentou mais de US$ 23 milhões usando criptomoedas. Outra história preocupante envolve uma fraude em que mais de 5.000 pessoas foram enganadas, resultando em um prejuízo de cerca de US$ 540 milhões.
Um fenômeno crescente são os “ataques de chave de fenda”, onde agressores atacam pessoas para roubar suas chaves privadas de criptomoedas. Na França, por exemplo, já foram registrados 16 ataques desse tipo apenas neste ano, segundo registros de incidentes.
As dificuldades enfrentadas pelas forças policiais são resultado da natureza global das criptomoedas, que exigem cooperação entre países. Muitas vezes, as vítimas de fraudes ou invasões ficam à mercê de indivíduos que atuam em outras nações.
Além disso, as investigações são complicadas pela falta de um padrão comum na forma de analisar os dados. Diana Pătruț, da Blockchain Intelligence Professionals Association (BIPA), comentou que as diferentes empresas que fazem a análise de blockchain apresentam resultados que nem sempre são compatíveis. Isso dificulta a colaboração entre instituições.
Ela comentou ainda sobre a tendência de o treinamento nesta área ser orientado por empresas privadas, o que pode gerar um viés de confirmação. O ideal seria que investigadores desenvolvessem habilidades próprias de avaliação, além de se familiarizar com ferramentas de código aberto que poderiam ajudar nas investigações.
Pătruț também manifestou preocupações quanto à simplificação do que se considera um crime relacionado a criptomoedas. Sem definições claras, fica difícil avaliar a real extensão desses delitos em comparação com crimes financeiros tradicionais. Para ela, uma abordagem mais útil seria examinar o crime financeiro como um todo e reconhecer o papel crescente das criptomoedas nesse cenário.
Nesse cenário em transformação, o diálogo entre o setor público e privado se mostra essencial para o desenvolvimento de padrões eficazes e a adoção de melhores práticas.





