Drex enfrenta desafios, mas pode recuperar destaque, apontam especialistas
O futuro do Drex e seu impacto nas criptomoedas, especialmente as stablecoins, foi um dos assuntos quentes debatidos no evento Ethereum Brasil, que aconteceu em São Paulo na última quarta-feira, dia 10. Especialistas concordam que o projeto perdeu um pouco o ritmo nos últimos meses, e o principal desafio que ele enfrenta é a privacidade das transações.
Fernando Fontes, Product Owner da Truther, expressou sua preocupação: “É uma pena que o projeto não evoluiu tanto quanto esperávamos. A privacidade, que é a barreira mais importante, foi deixada para depois e agora isso precisa mudar.” Ele também trouxe à tona o dilema que até blockchains consagradas, como o Ethereum, enfrentam nesse quesito, visto que o caráter pseudônimo das operações pode acabar batendo de frente com leis como a LGPD.
Marcos Viriato, CEO da Parfin, comentou que o problema do Drex vai além da privacidade. Ele destacou a escalabilidade como um grande entrave, afirmando: “Nenhuma blockchain consegue realizar tantas operações quanto o Pix faz atualmente.” Apesar disso, ele vê um caminho promissor na indústria, ressaltando que a solução para a privacidade será essencial, uma vez que a identificação de uma carteira pode expor todos os movimentos financeiros de seu dono.
Embora haja críticas, muitos acreditam que o Brasil está em uma posição privilegiada para integrar o sistema financeiro tradicional com o mundo cripto. Fontes mencionou que o país já possui uma infraestrutura robusta, especialmente com o sucesso do Pix. “Por muito tempo, o mundo cripto esteve desconectado do tradicional. Agora estamos vivendo uma revolução onde é possível ter sua cripto em autocustódia e fazer um Pix com esses ativos,” disse ele. A Truther já está oferecendo um cartão de crédito autocustodiado e contas com suporte em USDT, que podem ser usadas tanto no Brasil quanto no exterior.
A aceitação de criptomoedas no cotidiano também está começando a aparecer. Dênis Martineli, diretor da Telium, anunciou que a empresa terá um espaço no Morumbi onde será possível pagar com criptomoedas, refletindo como a aceitação deste modo de pagamento pode se expandir. Para ele, “as criptomoedas vão triunfar quando conseguirem se integrar ao nosso dia a dia, permitindo transações no cotidiano com cripto.”
Tokenização e stablecoins
Durante o evento, a discussão também girou em torno da tokenização de ativos reais (RWA), que promete revolucionar o setor, mas enfrenta resistência de instituições já estabelecidas, como os cartórios. Fontes comentou: “Eles não querem que a gente tokenize os processos. O que propomos é benéfico para o usuário, mas quem detém o poder atual não está disposto a mudar.”
Viriato acrescentou que a tokenização é um tema em alta, especialmente por conta das stablecoins. “As pessoas estão vendo a tokenização como uma grande oportunidade. Devemos ver surgir várias stablecoins em real, e até bancos podem lançar suas próprias opções. Isso vai possibilitar que as pessoas transacionem seus ativos de forma tokenizada,” destacou ele.
Os participantes chegaram a um consenso: a integração das criptomoedas com o sistema de pagamentos brasileiro é um processo sem retorno. Como Martineli resumiu: “O que importa é o processo. Quero receber em real, e a moeda que a pessoa usar para pagar não faz diferença, pois haverá quem consiga fazer essa conexão.” Nesse cenário, o Drex pode recuperar seu espaço, contanto que supere os obstáculos técnicos e regulatórios, colocando a privacidade como prioridade no desenvolvimento do projeto.