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ETF de Dogecoin impulsiona especulação na indústria cripto

O primeiro fundo negociado em bolsa (ETF) de Dogecoin (DOGE) nos Estados Unidos está prestes a ser lançado nesta quinta-feira. Essa novidade tem gerado debates entre os especialistas do setor. Para alguns, esse movimento é um passo em direção à legitimidade das criptomoedas. Para outros, é apenas uma nova roupagem para a especulação.

Diferente dos ETFs de Bitcoin que foram aprovados sob a Lei de Valores Mobiliários de 1933, o Rex-Osprey Dogecoin ETF (DOJE) foi autorizado com base na Lei das Sociedades de Investimento de 1940. Essa lei é mais comum em fundos mútuos e ETFs diversificados. Enquanto um fundo como o da BlackRock mantém Bitcoin sob custódia da Coinbase, o DOJE se expõe ao Dogecoin através de uma subsidiária nas Ilhas Caiman e de derivativos, já que a legislação exige que haver diversificação nos investimentos.

Os lançamentos de ETFs de criptomoedas costumam ser celebrados, mas críticos afirmam que um fundo dedicado a uma memecoin institucionaliza a especulação. Eles ponderam ainda que isso implica custos, já que os investidores poderiam simplesmente comprar o Dogecoin de forma direta, sem as taxas envolvidas. Há também uma certa ironia em notar que o Dogecoin, que começou como uma piada, hoje se destaca em meio a projetos com propósitos mais concretos.

Precisamos de um ETF de Dogecoin?

O Dogecoin tem suas raízes no Bitcoin. Ele surgiu em 2013 como um “fork” do Luckycoin, que é, por sua vez, um “fork” do Litecoin, um dos muitos derivados do Bitcoin. Começou com um tom de brincadeira, mas, aos poucos, conquistou espaço, tornando-se uma das dez maiores criptomoedas em valor de mercado.

Ele é amplamente utilizado por traders de varejo e originou a categoria das memecoins, que frequentemente enfrentam críticas por sua natureza especulativa. Essa característica torna a aprovação do ETF particularmente polêmica.

Um ETF permite que investidores acessem o Dogecoin através do mercado de ações, mas nem todo mundo acha isso vantajoso. Brian Huang, cofundador da plataforma de gestão cripto Glider, comentou que as taxas dos ETFs são altas, especialmente quando é tão fácil abrir uma conta na Coinbase e comprar a moeda diretamente. Ele acredita que investidores institucionais tendem a preferir tokens com características mais “sérias” e que geram receita.

O Dogecoin tem o potencial de transformar investidores em milionários, mas enfrenta um desafio constante com a inflação. Diferentemente do Bitcoin, que tem um limite de 21 milhões de moedas, o Dogecoin não possui um teto. Ele é emitido continuamente, com blocos gerando uma recompensa de 10.000 DOGE a cada minuto — o que significa que aproximadamente 5 bilhões de novas moedas são cunhadas anualmente.

Durante os ciclos de valorização das memecoins, especialistas alertaram que esses ativos desviam atenção e investimentos de projetos mais relevantes no setor. O ETF de Dogecoin pode reforçar essa percepção. Douglas Colkitt, de uma empresa de tecnologia blockchain, expressou seu descontentamento ao ver uma memecoin ultrapassando projetos mais sérios no universo dos ETFs.

Dogecoin não abre caminho para uma enxurrada de ETFs cripto

Em agosto, haviam 92 produtos cotados de cripto aguardando decisão da Comissão de Valores Mobiliários (SEC) nos Estados Unidos. Entre eles, havia pedidos relacionados tanto ao Dogecoin quanto a outras memecoins, como o Pengu.

Mike Maloney, CEO da Incyt, afirmou que, embora o Dogecoin tenha começado como uma piada, ele evoluiu para uma altcoin de respeito, atraindo investidores e engenheiros comprometidos com o setor. A mobilização da comunidade é tão importante para uma moeda digital quanto para uma ação.

Enquanto críticos levantam questões sobre a validade do Dogecoin em comparação a projetos mais robustos, outros defendem que seu sucesso mostra o poder das comunidades em levar ativos ao reconhecimento regulatório. Maja Vujinovic, da FG Nexus, observou que se o Dogecoin foi o escolhido, isso indica que as comunidades são capazes de empurrar ativos para estruturas mais reguladas, refletindo a preocupação dos reguladores com o comportamento social, além dos valores de mercado.

Diferente de muitas altcoins, o Dogecoin está frequentemente no centro das atenções, especialmente devido a posts do CEO da Tesla, Elon Musk, que ajudaram a impulsionar seu preço. Com uma trajetória que sobreviveu a várias quedas do mercado, o token demonstra uma resiliência que faltam a outras memecoins.

O caminho trilhado pelo ETF de Dogecoin não abrirá portas para todos; a liquidez e rigor na supervisão ainda desempenham um papel fundamental na entrada de outros tokens em estruturas regulatórias. Na terça-feira, a SEC adiou uma decisão sobre o Bitwise Dogecoin ETF, estendendo sua avaliação até 12 de novembro.

ETF de Dogecoin embaralha a linha entre meme e mercado

O lançamento do ETF de Dogecoin força o setor a refletir sobre a relação entre especulação e a cultura que a cerca. Alguns críticos notam que o fundo se inclina demais para o segundo aspecto. Huang, por exemplo, considera “ridículo” transformar um único token em um ETF, o que representa uma nova maneira de despachar ativos.

Outros, porém, argumentam que a forma é tão importante quanto a função. Para Vujinovic, o ETF não muda o código ou o propósito do Dogecoin; ele apenas adiciona segurança e legibilidade para investidores mais conservadores através de auditorias e exigências regulatórias.

Colkitt vê essa evolução como uma mistura de esperança e ironia. O fato de uma memecoin ter alcançado o status de ETF regulado sinaliza que, de certa forma, quase tudo pode acontecer nesse espaço. Embora isso abra oportunidades para adoção, também levanta questões sobre os limites do que a cripto pode oferecer, misturando inovação financeira com uma dose considerável de entretenimento.

Assim, o DOJE levanta debates sobre se os memes realmente pertencem aos mercados sérios. O que se nota é que tanto reguladores quanto investidores estão dispostos a considerar essa possibilidade de forma formal. A Rex-Osprey já planeja outros ETFs de memecoins, com propostas para produtos ligados ao Official Trump e ao Bonk, além das altcoins XRP e Solana.

Rafael Cockell

Administrador, com pós-graduação em Marketing Digital. Cerca de 4 anos de experiência com redação de conteúdos para web.

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