O governo dos Estados Unidos está se preparando para confiscar nada menos que 127.271 bitcoins, que valem cerca de US$ 14,2 bilhões. Essa quantidade imensa de criptomoeda foi acumulada em um esquema internacional de fraude a cargo de um cidadão chinês, Chen Zhi.
Se esse confisco for efetivado, esses bitcoins deverão ser integrados à Reserva Estratégica de Bitcoin dos EUA, criada a partir de uma ordem executiva assinada por Donald Trump no início do ano. Vale lembrar que essa ordem tem como objetivo armazenar bitcoins confiscados como reserva, algo que marca uma nova fase na política dos Estados Unidos em relação às criptomoedas.
Entretanto, um impasse político em Washington e a conjuntura de um governo parcialmente em funcionamento podem atrasar esse processo de formalização.
O que é a Reserva Estratégica de BTC
A Reserva Estratégica de Bitcoin foi estabelecida por uma ordem executiva e determina que os bitcoins a serem armazenados nessa reserva são os que forem confiscados pelo Departamento do Tesouro em ações de crime ou de confisco de bens. O documento afirma que a reserva será capitalizada com bitcoins que pertencem ao tesouro e que foram adquiridos por meio de processos de confisco.
Essa mudança de estratégia é significativa porque, no passado, o governo costumava leiloar os bitcoins confiscados, como ocorreu em casos conhecidos como o da Silk Road. A ideia atual é tratar esses ativos como reservas soberanas, o que especialistas acreditam que reconhece o BTC como um ativo de reserva global. Contudo, o entrave político pode dificultar a formalização e transferência desse montante até o final de outubro.
Chen Zhi e o império digital do crime no Camboja
O processo judicial iniciado no dia 14 de outubro trouxe à tona detalhes de uma operação internacional que Chen Zhi liderava. Ele está à frente do Prince Group, um conglomerado cambojano que fica envolvido em fraudes digitais, tráfico de pessoas e corrupção.
Esse grupo operava em locais clandestinos que funcionavam como centros de golpes e prisões ilegais. Pessoas atraídas por falsas promessas de trabalho eram forçadas a realizar fraudes com criptomoedas sob ameaça de violência. Esses esquemas, conhecidos como “pig butchering scams”, manipulam emocionalmente as vítimas para que investam em falsas oportunidades.
Chen tinha um controle meticuloso de suas operações e até mantinha registro dos locais associados ao hotel Jinbei e outros estabelecimentos cambojanos. Ele contava com conexões políticas importantes que o mantinham à frente das operações policiais, permitindo que ele controlasse bilhões em criptomoedas ilícitas. Um promotor envolvido no caso destacou que esse cenário mostra como crime cibernético e tráfico humano se interagem na economia digital do Camboja.
Sanções internacionais atingem Chen Zhi e empresas associadas
Além da apreensão, os Estados Unidos e o Reino Unido impuseram sanções a Chen Zhi e suas empresas. O Departamento do Tesouro listou 146 indivíduos e entidades associadas ao Prince Group, que é acusado de operar vários esquemas fraudulentos contra cidadãos dos EUA e da Europa.
A Rede de Combate a Crimes Financeiros também tomou medidas, isolando financeiramente o Huione Group, que era considerado um dos principais canais de lavagem de dinheiro do grupo criminoso. Estima-se que eles usavam stablecoins e empresas de fachada em regiões como Hong Kong e Macau para movimentar bilhões de dólares de forma ilegal. A secretária adjunta do Tesouro, Elizabeth Rosenberg, reforçou que os EUA não tolerarão o uso de criptomoedas para encobrir redes de exploração humana e fraudes financeiras.
Impactos geopolíticos e precedentes para o mercado cripto
A possibilidade de incorporar esses 127 mil bitcoins à reserva americana ocorre em um momento de grande volatilidade no mercado de criptomoedas, aliado a um interesse crescente das instituições. Para analistas, esse caso não só fortalece a posição do BTC como um ativo estratégico, mas também gera um debate jurídico sobre a propriedade estatal de criptomoedas confiscadas.
Por outro lado, a operação também pode intensificar as tensões diplomáticas com a China, já que Chen Zhi mantém relações próximas com autoridades chinesas e gerenciava empresas com significativa influência regional. Assim, especialistas veem a situação como uma resposta indireta dos EUA à expansão tecnológica e financeira da China.
