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Mineradores de btc vendem us$ 5,6 bilhões em exchanges

Os mineradores de Bitcoin estão passando por um período desafiador. Recentemente, a receita diária deles despencou para o nível mais baixo do ano. Após uma queda significativa de US$ 19 bilhões no mercado de criptomoedas, muitos mineradores começaram a enviar grandes volumes de BTC para corretoras. Esse movimento já é visto como um sinal de pressão vendedora crescente.

Entre os dias 9 e 15 de outubro, aproximadamente 51.000 BTC, equivalentes a US$ 5,6 bilhões, foram transferidos para a Binance. O dia mais intenso foi 11 de outubro, quando 14.000 BTC foram enviados em um único dia, a maior quantidade desde julho de 2024.

Mineradores de BTC vendem reservas e pressionam o mercado

Esses altos volumes de movimentação não acontecem à toa. Frequentemente, são sinais de que os mineradores precisam de liquidez para cobrir os custos operacionais ou se proteger contra a volatilidade do mercado. Quando isso acontece, os analistas costumam considerar que as métricas on-chain estão sinalizando uma tendência de baixa.

O comportamento dos mineradores mostra que muitos estão deixando de acumular moeda e optando por vender parte de suas reservas. De acordo com o pesquisador ArabChain, essas grandes movimentações geralmente indicam liquidação ou garantias para empréstimos.

É importante lembrar que, por vezes, as transferências podem ser apenas realocações entre carteiras empresariais e plataformas de negociação, motivadas por questões regulatórias ou operacionais. Mesmo assim, essa tendência revela uma mudança no ciclo do setor. Durante boa parte de 2025, os mineradores estavam confiantes de que, após o halving, os preços do BTC aumentariam. Agora, o cenário é bem diferente: a concorrência está acirrada e as margens de lucro encolheram.

Dificuldade recorde e margens em colapso

A dificuldade de minerar novos blocos do Bitcoin aumentou e atingiu 150 trilhões em setembro, após uma série de sete ajustes positivos consecutivos. Embora o último ciclo de mineração tenha apresentado uma ligeira queda de 2,73% na dificuldade, isso foi apenas um alívio temporário. A dificuldade de minar se ajusta a cada duas semanas, com o objetivo de manter a média de 10 minutos por bloco.

Com a dificuldade elevada, mais máquinas competem pelos mesmos prêmios. Isso significa que mineradores menores podem acabar desligando suas operações. A recente queda na dificuldade, no entanto, não trouxe melhorias na rentabilidade. O hashprice, que representa a receita por terahash de poder computacional, caiu para cerca de US$ 45, o menor desde abril.

As taxas de transação, que poderiam compensar essa perda, também estão em queda. Em 2025, a média por bloco está em 0,036 BTC, a menor desde 2010. Um especialista no assunto, Jaran Mellerund, ressalta que muitos mineradores estão ignorando essas taxas, que no futuro podem se tornar uma das principais fontes de renda.

Após o halving de abril, o prêmio por bloco caiu para 3,125 BTC. Isso fez com que a mineração virasse um jogo complicado, onde cada terahash adicional diminui os ganhos de todos.

Inteligência artificial surge como alternativa de sobrevivência

Frente a essa realidade desafiadora, muitos mineradores estão se adaptando. Parte da infraestrutura está sendo convertida para atender ao mercado de inteligência artificial (IA) e computação de alto desempenho (HPC). Essa estratégia se tornou uma tábua de salvação para várias empresas do setor.

Grandes mineradoras, como a Core Scientific, estão reconfigurando seus data centers, que já possuem energia de alta capacidade, refrigeração e conectividade, para receber cargas de trabalho relacionadas à IA. De acordo com dados recentes, um data center de 1 megawatt pode gerar até US$ 896 mil anuais em receita com Bitcoin, mas alugado para serviços de IA, esse mesmo espaço pode render até US$ 1,46 milhão por ano.

“O aumento da IA está mudando o panorama da energia e da infraestrutura global”, comenta Nico Smid, fundador da Digital Mining Solutions. Embora isso represente uma nova fase, as mineradoras ainda mantêm o foco no Bitcoin, buscando diversificar suas operações e garantir uma receita estável enquanto esperam uma recuperação dos preços.

Implicações para a rede Bitcoin

Essa recente movimentação de US$ 5,6 bilhões em BTC intensifica a pressão vendedora sobre um mercado que já está frágil. Historicamente, grandes transferências de mineradores para exchanges costumam preceder períodos de consolidação ou capitulação.

A longo prazo, a transformação das mineradoras em data centers híbridos que atendem tanto o mercado de cripto quanto o de IA pode mudar as estruturas de segurança da rede Bitcoin. A dependência do hashpower, que é crucial para a segurança da rede, pode ser afetada. Se a rentabilidade continuar a cair, alguns mineradores podem decidir mover seu poder computacional para aplicações fora do ecossistema Bitcoin, o que pode comprometer a distribuição e a resiliência da rede.

Em um cenário extremo, a segurança do protocolo pode estar nas mãos de empresas cujo foco principal não é mais a mineração de Bitcoin, mas sim o aluguel de capacidade computacional para terceiros. Essa transformação pode redefinir o equilíbrio econômico que sustentou o Bitcoin desde o seu início.

Rafael Cockell

Administrador, com pós-graduação em Marketing Digital. Cerca de 4 anos de experiência com redação de conteúdos para web.

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