Nobel de economia alerta sobre o futuro das stablecoins
Jean Tirole, um dos ganhadores do prêmio Nobel de Economia, expressou suas preocupações sobre a supervisão das stablecoins, aquelas criptomoedas atreladas a ativos mais estáveis, como o dólar. Durante uma entrevista ao Financial Times, ele alertou que, no futuro, os governos podem ser forçados a apoiar essas empresas, caso elas enfrentem dificuldades.
Hoje, o mercado de stablecoins é robusto, valendo cerca de US$ 295 bilhões (ou R$ 1,6 trilhão). As mais conhecidas são a Tether (USDT) e a USD Coin (USDC), que juntas dominam o setor, representando 57% e 24,4% desse mercado, respectivamente. Embora sejam amplamente utilizadas nas corretoras para a compra e venda de outras criptomoedas, até mesmo governos têm adotado essas moedas para o comércio internacional.
Nos Estados Unidos, com uma onda de apoio às criptomoedas, há quem veja as stablecoins como uma evolução do dólar, podendo, no futuro, se tornar uma opção mais comum para pagamentos do dia a dia.
Preocupações de Jean Tirole sobre as stablecoins
Jean Tirole, que recebeu o prêmio Nobel de Economia em 2014 por suas pesquisas sobre mercado e regulação, se mostrou crítico em relação às stablecoins. Ele destaca que a supervisão atual é insuficiente e menciona a necessidade de uma abordagem mais rigorosa para evitar riscos desnecessários.
A preocupação de Tirole gira em torno dos ativos que garantem essas moedas. Muitas empresas, como a Tether, têm investido em títulos do Tesouro americano, que são considerados seguros e com bom retorno. No segundo trimestre deste ano, a Tether, por exemplo, lucrou US$ 4,9 bilhões. No entanto, o economista alerta que esses ganhos não são sustentáveis a longo prazo. Quando as empresas buscam aumentar lucros, podem acabar investindo em opções mais arriscadas, como ações ou até mesmo outras criptomoedas. Isso pode resultar em uma situação onde a quantidade de ativos não consegue cobrir a quantidade de tokens emitidos, colocando em risco a paridade com o dólar.
Tirole lembra que, se muitos depositantes acreditarem que estão segurando um investimento seguro, o governo pode ser pressionado a interferir e garantir os depósitos, evitando que as pessoas percam dinheiro.
Ideias de supervisão e crítica ao cenário atual
Tirole sugere que haja uma supervisão mais cuidadosa a nível global. Ele critica também a falta de interesse em realizar essa supervisão eficaz, já que alguns membros do governo dos EUA supostamente têm interesses financeiros pessoais em criptomoedas, fazendo alusão ao ex-presidente Donald Trump, que está ligado à stablecoin USD1.
Apesar das incertezas, a própria indústria de criptomoedas tem se esforçado para ser mais transparente, promovendo auditorias externas. Contudo, essas avaliações muitas vezes acontecem de forma irregular e não garantem que corridas de saques não ocorram.
Além de Tirole, outro economista renomado crítico do setor é Paul Krugman, que já defendeu o sistema de pagamentos do Pix como uma alternativa mais sólida em comparação com as criptomoedas, destacando as vantagens práticas do sistema brasileiro.