PF revela operações de empresas da Colossus na Binance
A Polícia Federal (PF) revelou detalhes interessantes em relatórios sobre o envolvimento da corretora Binance em operações de lavagem de dinheiro. De acordo com as investigações, grupos criminosos como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e até mesmo o Hezbollah usaram a plataforma para movimentar recursos obtidos de atividades ilícitas. Essa situação levanta uma luz sobre como o mundo das criptomoedas pode ser um terreno fértil para fraudes e lavagem de dinheiro.
A Operação Colossus, iniciada em setembro de 2022, foi um marco para a PF. Pela primeira vez, ficou claro que as exchanges de criptomoedas estavam se tornando o novo ponto de partida para a evasão de divisas, substituindo os tradicionais doleiros. Essa investigação começou com a suspeita de financiamento do Hezbollah e expôs um esquema que movimentou mais de R$ 60 bilhões entre 2017 e 2022.
Um dos protagonistas dessa história foi a OWS Brasil Intermediações, que realizou operações de câmbio que somaram mais de R$ 6 bilhões. A PF descobriu que a OWS enviava valores para empresas como Prime Trust e DV Chain, provavelmente para adquirir criptomoedas na Binance e na Bittrex. Essa foi a primeira vez que o nome da Binance apareceu oficialmente em um relatório da PF.
A Multa da Binance nos EUA
Enquanto isso, os Estados Unidos também estavam de olho na Binance. Em um movimento significativo, a corretora foi multada em US$ 3,4 bilhões após a Financial Crimes Enforcement Network (FinCEN) e o Office of Foreign Assets Control (OFAC) concluírem que a plataforma não tinha um esquema eficaz de combate à lavagem de dinheiro. A reportagem americana destacou que a Binance permitia que criminosos operassem livremente na plataforma, incluindo organizações terroristas.
Após essa punição, a Binance admitiu que havia problemas sérios em seus controles internos e se comprometeu a melhorar suas práticas. Reconheceram falhas no cumprimento das regras de “conheça seu cliente” (KYC) e no monitoramento de transações suspeitas. Desde então, a corretora tem tentado reforçar seus processos e colaborar com autoridades internacionais, apesar de ainda enfrentar questões legais em vários países.
Ligação com o Hezbollah e Fintechs Brasileiras
A chamada Operação Colossus teve desdobramentos em outras ações, como as operações Hydra e Quasar. Essas investigações buscaram rastrear empresas brasileiras que movimentavam criptomoedas para carteiras ligadas a sanções impostas por Israel. A fintech 2Go Bank, por exemplo, foi mencionada em relatórios do Coaf e teria envolvimento em transações com carteiras sancionadas.
De acordo com o Banco Topázio, que também colaborou com as investigações, existiam conexões diretas entre os recursos enviados ao exterior e criptomoedas associadas à 2Go Bank. Apesar de os valores não serem exorbitantes, o padrão de transações chamou a atenção da PF, que incluiu a fintech como um ponto-chave no esquema.
Em um comunicado, o Ministério da Defesa de Israel mencionou que carteiras digitais na Binance estavam sendo usadas para movimentar criptomoedas com fins ilícitos. A 2Go Bank negou qualquer irregularidade, mas posteriormente foi citada em investigações que miraram doleiros chineses e operadores de câmbio envolvidos com facções brasileiras. Somadas, essas operações identificaram movimentações que ultrapassaram R$ 119 bilhões em criptomoedas e ouro.
Recentemente, a Justiça Federal determinou o sequestro de R$ 6,7 bilhões relacionados à Operação Colossus. Com isso, novos suspeitos foram presos e um foragido foi encontrado vivendo em Dubai. Essas ações demonstram como o crime organizado tem se sofisticado, utilizando exchanges globais para lavar dinheiro e explorar brechas regulatórias.
O caso do empresário Dante Felipini, condenado a 17 anos de prisão por evasão de divisas e lavagem de dinheiro, ilustra bem a conexão entre tráfico de drogas, financiamento do terrorismo e o mundo das criptomoedas. Enquanto nos EUA a Binance enfrentou sanções severas, no Brasil ainda não foram impostas punições às empresas investigadas. Contudo, a PF parece pronta para ampliar seu foco, investigando não apenas as exchanges, mas também as fraquezas regulatórias que permitiram a infiltração do crime organizado no sistema financeiro digital.