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Tecla G de gastos domina cenário político em Brasília

Gustavo Franco, economista e ex-presidente do Banco Central, deixou um aviso importante durante o evento DAC Insiders, realizado pelo Mercado Bitcoin: a situação fiscal do Brasil exige atenção. Para ele, a estratégia atual do governo parece se resumir a um único comando: gastar. Franco criticou os altos gastos públicos e ressaltou a urgência de adotar medidas para equilibrar as contas do país.

Ele destacou que a dívida bruta brasileira já ultrapassou impressionantes R$ 8 trilhões. Em comparação, o Produto Interno Bruto (PIB) gira em torno de R$ 12 trilhões. “Quando se anuncia novos programas, a conta não fecha e a confiança no governo se esvai”, disse Franco, afirmando que esses gastos só aumentariam a fatura para as próximas gerações.

Um ponto que ele levantou é o que chama de dominância fiscal. Teoricamente, mais gastos deveriam aquecer a economia, mas no Brasil a realidade é outra: isso pode afastar investimentos, aumentar os juros e limitar as ações de política monetária. Cada novo gasto deixa mais dúvidas do que certezas. “Sem caixa, sobra dívida. E a bola de neve aumenta”, alertou. Para ele, a taxa de juros não é mais definida apenas pelo Comitê de Política Monetária, mas também pelas ações do Tesouro nacional.

Franco fez uma analogia com uma empresa: “Se o Brasil fosse uma companhia, estaria totalmente endividada e com fluxo de caixa insuficiente.” Para um gestor, isso seria um sinal de alerta.

Ativos digitais como proteção à inflação

Quando questionado sobre o papel do Bitcoin e de ativos digitais como proteção contra a inflação, Franco não fez críticas nem defendeu seu uso. Ele observou que tanto o ouro quanto as criptomoedas estão atraindo interesse, mesmo que não sejam soluções diretas para os desafios econômicos. “Em tempos de incerteza, ter opções é sempre bom, mas cuidado: algumas podem acabar se transformando em bilhetes de loteria”, comentou, trazendo à tona uma analogia com a política econômica de Fernando Henrique Cardoso.

A comparação com o cenário internacional

Além das críticas à política fiscal do Brasil, Franco também analisou a situação global. Ele mencionou o aumento das tarifas nos Estados Unidos, uma resposta à concorrência chinesa. Embora essa medida pareça popular, Franco acredita que não se sustentará a longo prazo. Ele lembrou que a transferência de indústrias para a Ásia beneficiou mais de um bilhão de pessoas, mas também gerou frustração entre trabalhadores americanos que perderam seus empregos.

Franco viu a desvalorização do dólar como uma oportunidade para o Banco Central enfrentar a inflação, mas destacou que o verdadeiro desafio reside na falta de estrutura da política fiscal brasileira. O medo do gasto desenfreado impacta diretamente a confiança do mercado. Ele propôs uma reavaliação do sistema orçamentário, argumentando que a fragmentação atual favorece a expansão das despesas sem contrapartidas.

O impacto político

A fala de Franco também tocou na influência da situação fiscal no cenário eleitoral. Antes, as eleições eram momentos de estímulo econômico, mas agora cada novo anúncio pode gerar mais incerteza. “Chegamos ao limite. A questão não é apenas técnica, mas também política”, afirmou, destacando a necessidade de responsabilidade institucional e uma mudança na mentalidade sobre o orçamento.

A tecla “G”

E o ponto que ele mais enfatizou foi a crítica à “tecla G de gastar”. Para Franco, o governo age como se não houvesse espaço para planejamento ou contenção. Como resultado, o Brasil se vê preso a uma dívida crescente, o que fomenta um clima de medo ao invés de confiança.

Ao final de sua fala, ele deixou claro que a questão fiscal é, na verdade, uma preocupação para as próximas gerações. Os jovens de hoje herdarão um país que pode ser mais caro para financiar e menos preparado para o crescimento. Portanto, o recado de Gustavo Franco ressoa como um convite à reflexão: é preciso parar de apenas “apertar a tecla G” e pensar em reorganizar o futuro do Brasil.

Rafael Cockell

Administrador, com pós-graduação em Marketing Digital. Cerca de 4 anos de experiência com redação de conteúdos para web.

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