Vitalik Buterin destaca privacidade como direito humano no Brasil
Vitalik Buterin, o cofundador do Ethereum, visitou o Brasil pela primeira vez e trouxe um assunto que é bastante relevante para o universo das criptomoedas: a privacidade. Durante uma palestra focada em desenvolvedores que participaram de um hackathon no evento ETH Latam, ele elucidou as questões que cercam este tema, que vem incomodando o ecossistema desde o seu surgimento.
Buterin compartilhou um panorama do que já foi feito e o que está em desenvolvimento no que diz respeito à privacidade. Ele lembrou que as criptomoedas têm raízes que remontam aos anos 80, com a introdução do e-cash por David Chaum. Esse sistema era privado, mas não descentralizado. Em contraste, o Bitcoin trouxe a descentralização, mas deixou a desejar em termos de privacidade. Para o cofundador do Ethereum, essa limitação se deveu a questões tecnológicas, que, segundo ele, já foram superadas. Atualmente, há tecnologia pronta para oferecer privacidade sem sacrificar a descentralização.
Vitalik enfatizou a importância da privacidade, dizendo que ela é fundamental para a liberdade. Ele acredita que a privacidade não é apenas um conceito, mas um verdadeiro direito humano, essencial para garantir a comunicação e a colaboração na sociedade. E o mais encorajador é que, segundo ele, já podemos alcançar isso no ambiente atual das criptomoedas.
Contudo, Buterin reconheceu que as soluções disponíveis ainda são complicadas para o usuário médio. Ele pediu aos desenvolvedores que se esforcem para integrar transações privadas de forma que elas se tornem “parte do fluxo padrão” nas blockchains.
Buterin comenta o fim do Drex
Durante a palestra, Vitalik também foi questionado sobre a recente decisão do Banco Central do Brasil de abandonar o projeto Drex. Este programa tinha reduzido o uso de blockchain, levando em conta que a tecnologia não oferecia a privacidade necessária para as transações. Contudo, Buterin tem uma visão otimista: segundo ele, existem tecnologias suficientemente avançadas atualmente que podem garantir essa privacidade sem sacrificar a transparência e a segurança das redes.
Ele observou que, há dois anos, as ferramentas para pagamentos privados ainda não estavam totalmente prontas, mas acredita que esse cenário mudou. A chave está nas expectativas do Banco Central: estariam eles insatisfeitos com as solucões porque eram realmente inadequadas ou apenas por não estarem maduras o suficiente na época?
Vitalik ressaltou que as tecnologias estão em constante evolução, e não devemos simplesmente descartar o uso de blockchain por ineficiência. Ele citou, por exemplo, o projeto Aztec, que vem evoluindo rapidamente, agora oferecendo um sistema mais robusto para a privacidade.
Dar privacidade para pessoas, não financiar crimes
Buterin também falou sobre o protagonismo do Ethereum na pesquisa e desenvolvimento de soluções para privacidade desde 2018. Ele trouxe à tona o Tornado Cash como o primeiro grande aplicativo focado em privacidade na plataforma, e mencionou outros projetos promissores, como Railgun e Privacy Pools, que introduzem a ideia de “conjuntos de associação”. Essa tecnologia busca minimizar o uso indevido, assegurando o anonimato dos usuários.
Ele destacou que sistemas com conjuntos de associação mostram uma redução significativa de atividades fraudulentas, sem comprometer a privacidade de usuários legítimos. Assim, a mensagem final de Vitalik foi clara: a agenda de privacidade já não é mais uma proposta teórica, mas uma realidade.
As tecnologias estão maduras, as ferramentas existem e há exemplos concretos de como podemos mitigar abusos sem voltar a sistemas de vigilância centralizada. O foco agora é transformar a privacidade em algo comum e fácil. A ideia é criar uma experiência de usuário no Ethereum que seja totalmente privativa por padrão, sem complicações. A tecnologia já está pronta; agora falta implementá-la de forma eficaz.





