Ex-segurança de Tarcísio de Freitas é acusado de lavar dinheiro com cripto
O capitão da Polícia Militar de São Paulo, Diogo Costa Cangerana, foi apontado pela Polícia Federal como um dos principais envolvidos em um esquema grande de evasão de divisas e lavagem de dinheiro usando criptomoedas. Esse esquema operou de 2021 a 2024, período em que Cangerana atuou como segurança dos governadores Tarcísio de Freitas e Rodrigo Garcia.
As investigações mostraram que ele atraía clientes interessados em “proteger” seus patrimônios e lavar dinheiro por meio de criptomoedas, especialmente a stablecoin USDT. Cangerana também era responsável por cooptar gerentes de bancos e organizar operações ligadas ao comércio ilegal de ouro que tinham como destino Dubai.
Um dos pontos mais chocantes das investigações foi a descoberta de uma planilha que detalhava valores de propina. Essa lista incluía pagamentos mensais destinados a “polícia”, “gerente de banco” e “laranjas”. O delegado Guilherme Alves Siqueira, que está à frente do caso, comentou que o documento evidencia a corrupção e o favorecimento bancário presentes nesse esquema, o qual era liderado pelo empresário chinês Tao Li.
Uma das táticas do esquema envolvia a criação de empresas de fachada. Essas empresas recebiam recursos em reais e, então, esses valores eram convertidos em criptoativos, dificultando a rastreabilidade da origem do dinheiro.
Funcionamento do Esquema
Cangerana facilitava a abertura de contas em nome de laranjas, cobrando até R$ 5 mil por cada conta e outros R$ 5 mil mensais para manutenção. Ele movimentava até R$ 2 milhões por dia. Para garantir que cada conta tivesse esse limite, Li cobrava do capitão uma taxa específica, já que valores menores dificultariam as remessas.
Envolvimento de Fintech
Além disso, foi revelado que Cangerana recebia aproximadamente R$ 18 mil por abrirem essas contas. O total pago por seus serviços era em torno de R$ 120 mil, recebidos através da empresa Canbru Intermediações. Ele também ajudava a criar CNPJs para empresas fictícias e chegou a sugerir a compra de R$ 85 mil em USDT usando dinheiro vivo.
As investigações também levantaram suspeitas de que tanto Cangerana quanto Tao Li tinham negócios ligados ao 2GoBank, uma fintech associada ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Conversas interceptadas pela Polícia Federal indicam planos de enviar até 12 toneladas de ouro para Dubai, com pagamentos que poderiam ser feitos em dinheiro, criptomoedas ou transferências bancárias. Curiosamente, a primeira remessa teria sido transportada até em uma Ferrari.
Cangerana, que atualmente está lotado na Diretoria de Logística da PM, não respondeu aos questionamentos da imprensa e se declara inocente na Justiça. A assessoria de Tarcísio informou que, desde setembro de 2024, ele não estava em funções de assessoria, apenas realizando atividades comuns da corporação. A reportagem também tentou falar com o ex-governador Rodrigo Garcia, mas sem sucesso.