Emissora do USDC analisa transações de blockchain reversíveis
A Circle, que é a segunda maior emissora de stablecoins do mundo, está considerando a possibilidade de tornar algumas transações reversíveis. Essa ideia surge para facilitar a recuperação de fundos em casos de fraudes e hackeamentos, o que contraria uma das bases do universo cripto: a noção de que as transações são finais e não podem ser manipuladas.
Heath Tarbert, presidente da Circle, comentou ao Financial Times que a empresa está explorando a viabilidade de permitir a reversão de transações, mas com a intenção de preservar a função de liquidação. Segundo ele, existe uma tensão entre a necessidade de transferir valores rapidamente e a irreversibilidade das transações.
### Conflito com o ethos cripto
Os defensores da reversibilidade argumentam que essa abordagem poderia ajudar as vítimas de fraudes, tornando o sistema de stablecoins mais confiável. No entanto, essa ideia fere o modelo descentralizado que é a essência do cripto, onde as transações são permanentes e não podem ser alteradas por ninguém, nem por emissores ou validadores.
Recentemente, quando a exchange descentralizada Cetus perdeu mais de US$ 220 milhões em ativos digitais, os validadores conseguiram congelar US$ 162 milhões desse montante. Uma semana depois, eles aprovaram a devolução desse valor, mostrando que, mesmo com os riscos de centralização, a reversibilidade pode ser útil em certas situações.
### A importância da inovação
Embora o setor de blockchain seja visto como o futuro das finanças, algumas características do sistema financeiro tradicional podem ser benéficas, de acordo com Tarbert. Ele destaca que, mesmo com toda a tecnologia inovadora que as stablecoins e os contratos inteligentes oferecem, algumas funcionalidades do sistema tradicional ainda faltam. Alguns desenvolvedores estão considerando a necessidade de “uma certa dose de reversibilidade para fraudes”, desde que haja consenso entre as partes envolvidas.
Estes comentários aparecem em um momento em que a Circle avança em sua infraestrutura institucional. Em agosto, a empresa anunciou o lançamento de sua própria blockchain de camada 1, chamada Arc, projetada para oferecer uma base robusta para pagamentos em stablecoins e outras aplicações de mercado. O USDC será utilizado como moeda nativa para as transações dentro dessa nova rede, que será apresentada ao público como uma testnet neste outono, com lançamento completo previsto para o final de 2025.
### A realidade da imutabilidade
A imutabilidade é vista como um princípio central da blockchain, mas a ideia de que transações devem ser completamente irreversíveis nem sempre se alinha com a forma como instituições financeiras operam. Conforme explicou Andrei Grachev, sócio fundador do protocolo de dólar sintético Falcon Finance, essa imutabilidade “não reflete como os sistemas financeiros funcionam em larga escala”. Para ele, a reversibilidade, quando projetada com regras claras e consentimento dos usuários, pode ser uma funcionalidade eficiente e prática.
Algumas soluções que poderiam ser implementadas incluem contratos inteligentes que possibilitem reembolsos em casos de fraude, ou stablecoins com mecanismos que permitam ajustes temporários nas liquidações. Essas abordagens mantêm a agilidade e a segurança necessárias em um cenário em constante mudança.