Queda do ETH revela bomba de US$ 4 bilhões no Ethereum
A recente queda do Ethereum trouxe à tona um problema sério para empresas que utilizam criptomoedas como parte de sua tesouraria. A BitMine, considerada por muitos como a “Berkshire Hathaway dos ativos digitais”, apostou alto em ETH para fortalecer seu balanço. No entanto, sua estratégia agora enfrenta um desafio crítico.
Com o valor do Ethereum caindo mais de 27% no último mês e voltando a ficar abaixo de US$ 3.000, a BitMine já registra perdas não realizadas que ultrapassam os US$ 4 bilhões. Essa situação não afeta apenas a empresa, mas também repercute em todo o modelo de Digital Asset Treasuries (DATs), que lidam com criptomoedas como ativos financeiros.
BitMine acumula quase 3% do Ethereum e enfrenta estresse extremo
A BitMine possui atualmente cerca de 3,6 milhões de ETH, o que representa cerca de 2,97% do suprimento total. Essa posição, que antes valia mais de US$ 14 bilhões, agora está avaliada em menos de US$ 10 bilhões. Segundo a 10x Research, a empresa já perdeu quase US$ 1.000 por cada ETH adquirido. Para uma companhia comum, isso poderia ser um desafio, mas para uma que nasceu exclusivamente para acumular ETH, o risco se torna uma questão de sobrevivência.
E o problema não é isolado. Outras empresas também estão enfrentando dificuldades semelhantes. Dados da Capriole Investments mostram que tesourarias de Ethereum têm registrado retornos negativos de 25% a 48%. Negócios como a SharpLink e The Ether Machine chegaram a cair até 80% comparadas aos seus pontos mais altos do ano.
Empresas criadas para comprar cripto agora são forçadas a vender
A situação do mercado forçou empresas inicialmente desenhadas para acumular Ethereum a se desfazer de parte de suas reservas. Um exemplo é a FX Nexus, que tinha planos de levantar US$ 5 bilhões para se tornar a maior detentora corporativa de Ethereum. Devido à queda acentuada, a empresa teve que vender 10.900 ETH, totalizando US$ 32 milhões, para investir na recompra de ações. Essa mudança demonstra quão vulnerável esse modelo de negócio é.
O colapso do mNAV pode ameaçar a sobrevivência do setor
Um indicador importante para essas empresas é o market-value-to-net-asset-value (mNAV), que compara o valor de mercado da companhia com o valor real de suas reservas em cripto. Com a recente queda no Ethereum, o ciclo que possibilita o crescimento das DATs foi interrompido.
O mNAV atual da BitMine está em 0,75 no cálculo básico e 0,90 no cálculo diluído. Isso significa que o mercado avalia a companhia abaixo do valor dos ETH que possui, dificultando novas captações e aumentando as perdas para os acionistas. O cenário se assemelha a um “Hotel California”: uma vez preso nesse desconto, os investidores não conseguem sair sem prejuízo, enquanto a liquidez desaparece.
ETFs têm mecanismos de proteção; DATs não
O problema se agrava porque as DATs cobram taxas semelhantes às de fundos hedge, mas não contam com o mecanismo de arbitragem dos ETFs. Isso faz com que sua sustentabilidade dependa puramente da demanda de mercado. Quando o preço de um ativo cai, a procura diminui. E sem demanda, as ações começam a ser negociadas com um forte desconto.
Atualmente, muitas DATs já operam abaixo do seu mNAV, o que bloqueia a principal fonte de crescimento: a emissão de ações com premium.
Futuro das DATs depende de três fatores — e todos estão na direção errada
A BitMine tenta argumentar que o problema é apenas uma questão de liquidez, mas especialistas enxergam riscos estruturais no negócio. Para que as DATs se estabilizem, três condições precisam ocorrer simultaneamente:
- O preço do ETH precisa se recuperar fortemente.
- O mNAV deve voltar a ficar acima de 1.
- Os investidores precisam recuperar a confiança.
Infelizmente, nenhuma dessas condições está visível no horizonte. Charles Edwards, da Capriole, lamenta que a maioria dessas empresas provavelmente não sobreviverá a essa crise, dado que dependem exclusivamente da valorização do ativo e da emissão de ações, sem uma base de fluxo de caixa sólida.
A queda do Ethereum agora expôs um risco oculto que poucos estavam observando
Embora a BitMine consiga continuar segurando sua vasta quantidade de ETH, a situação que se desenrola revela verdades importantes: o modelo das DATs tem fragilidades profundas, a concentração extreme dos ativos aumenta o risco e empresas sem fluxo de caixa robusto dependem de ciclos de alta para se manterem à tona.
A crise atual serve como um alerta para todos os investidores comuns: não há garantia de que empresas que acumulam criptomoedas sobreviverão a longas quedas de mercado, mesmo que tenham bilhões em ativos.





