Notícias

Argentina se destaca como hub cripto na América Latina

Principal mercado da América Latina, o Brasil está vendo sua liderança no espaço das criptomoedas ser desafiada pela Argentina. Apesar de ainda ocupar o topo em termos de usuários e volume negociado, o país vizinho tem chamado mais atenção, especialmente após as mudanças regulatórias desde a chegada de Javier Milei à presidência. A busca por proteção contra a desvalorização do peso argentino incentivou a adoção crescente de criptoativos, conforme analisa Luiz Hadad, pesquisador do relatório “Blockchain – Relatório Latam 2025”.

Com uma abordagem regulatória mais amigável, a Argentina se tornou um polo atrativo para o mercado cripto. Hadad comenta que, mesmo que o Brasil continue sendo o país número um em adoção na região, a Argentina conquistou um status que a torna a favorita entre investidores e empresas estrangeiras. Recentemente, a Argentina transformou um ambiente antes hostil em um mais receptivo, respaldada pela nova Lei nº 27.739, que redefiniu a regulamentação de ativos virtuais e a responsabilidade dos provedores de serviços de ativos virtuais diante da Comissão Nacional de Valores Mobiliários.

Enquanto isso, o Brasil ainda enfrenta desafios em sua regulação. Desde a aprovação da Lei de Ativos Virtuais em 2022, que transferiu a supervisão para o Banco Central e a CVM, pouco avançou. As consultas públicas realizadas não resultaram em mudanças concretas, especialmente para regulamentar os provedores de serviços e o uso de stablecoins nas operações. Além disso, o governo aumentou a carga tributária sobre ganhos obtidos com criptomoedas, criando um cenário menos favorável para os investidores.

Ao comparar os dois países, a análise de Hadad salienta que, enquanto a Argentina evoluiu para um contexto regulatório favorável, o Brasil acabou caminhando na direção oposta, impondo restrições sem promover políticas que incentivem a adoção.

Adoção por Necessidade na Argentina, Institucionalização no Brasil

O relatório revela que a Argentina se destacou como o líder em transações de criptoativos na América Latina, com impressionantes US$ 91 bilhões movimentados de julho de 2023 a junho de 2024. Mesmo com uma população significativamente menor do que a brasileira, o país se tornou o mais ativo em termos de operação de cripto.

Muitos argentinos viram nas criptomoedas uma forma de se proteger da inflação crônica, que chegou a 211% em 2023. Com restrições na compra de dólares, a adoção de stablecoins, conhecidas como “cripto dólares”, ganhou força. Hadad observa que essa realidade levou os argentinos a serem mais receptivos a investir em criptomoedas, gerando um aprendizado rápido sobre o mercado.

Embora tenha uma regulamentação mais avançada, os bancos argentinos ainda não oferecem serviços de negociação de criptoativos. Isso acaba favorecendo o uso de soluções de autocustódia e o aumento da atividade on-chain, fomentando uma comunidade mais engajada.

Por outro lado, o Brasil tem visto a adoção através de grandes instituições financeiras, como Itaú, Nubank e BTG Pactual, que proporcionam acesso a produtos de cripto para um público mais amplo. Isso diz muito sobre como a natureza da adoção varia entre os países: enquanto o Brasil está conquistando o mercado de forma institucional, a Argentina já possui uma comunidade forte e ativa, organizada em suas próprias exchanges.

Um dado curioso é que, enquanto a Binance domina cerca de 50% do mercado brasileiro, na Argentina, ela compete com a LemonCash, uma exchange local que também aposta em soluções de finanças descentralizadas. As duas juntas representam 64% das carteiras ativas no país, mostrando como a preferência local se diversifica.

Além disso, a falta de intermediários bancários na Argentina fez com que a comunidade tomasse a frente na educação de novos usuários, promovendo um ambiente mais rico para o desenvolvimento de soluções e inovações.

Este ano, por exemplo, Buenos Aires vai sediar o Devconnect, que é uma das conferências mais importantes do ecossistema Ethereum. Por outro lado, os eventos no Brasil ainda focam mais na educação do consumidor local.

As mudanças na regulação da Argentina também trazem impactos significativos. A prefeitura de Buenos Aires, por exemplo, anunciou que aceitará criptomoedas para o pagamento de impostos municipais e adiantou medidas do BA Crypto, uma iniciativa que visa estimular o ecossistema local de cripto.

Rafael Cockell

Administrador, com pós-graduação em Marketing Digital. Cerca de 4 anos de experiência com redação de conteúdos para web.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo