blockchains proprietárias: quem controla a infraestrutura?
O cenário das finanças digitais está em constante movimento, e 2025 marcou uma fase intensa de inovação, principalmente com as grandes empresas correndo para criar blockchains próprias focadas em stablecoins e pagamentos. Um dos destaques é a Stripe, que, junto com a Paradigm, está trabalhando em uma plataforma chamada Tempo. Essa rede de alta performance, que será compatível com o Ethereum, promete facilitar acessos a transações financeiras de forma ágil.
Enquanto isso, a Circle anunciou a Arc, uma blockchain feita sob medida para as finanças com stablecoins, onde o USDC será o token nativo. Essa movimentação revela uma estratégia bem clara: dominar a infraestrutura significa oferecer uma experiência ao usuário mais fluida, reduzindo custos e, claro, capturando um maior valor nas transações. O crescimento da Circle é um ótimo exemplo disso, já que em agosto a empresa viu o uso de seu USDC aumentar em 90%, atingindo US$ 65,2 bilhões.
O Boom de Rails Especializados
A febre por blockchains não é exclusividade de gigantes. A Robinhood lançou uma camada focada em tokenização, a Tether, por sua vez, trabalha na Plasma, e várias startups como a Stable estão em busca de recursos para desenvolver seus rail especializados. Essa explosão de blockchains leva a um dilema: embora as stablecoins prometam descentralização, a competição por escala pode concentrar poder na mão de poucos.
Há críticas sobre essa expansão, com alertas de que ela poderia gerar novos “silos”, dificultando a interoperabilidade que sempre foi um ponto forte do universo cripto. O grande desafio será equilibrar essa busca por inovação e experiência com os princípios de neutralidade e abertura que, afinal, foram a base das stablecoins.
Governos no Comando da Era Digital
O estado de Wyoming deu um passo importante ao lançar a Frontier Stable Token (FRNT), se tornando o primeiro estado americano a emitir uma stablecoin oficial. Essa stablecoin está totalmente colateralizada, o que a torna muito segura. Com isso, os usuários podem utilizá-la em qualquer lugar que aceite Visa, incluindo pagamentos por meio de Apple Pay e Google Pay.
Os resultados têm sido impressionantes: os testes mostraram uma redução drástica no tempo de pagamento a fornecedores, de 45 dias para apenas alguns segundos. Isso demonstra o potencial das stablecoins para transformar processos governamentais, podendo servir de exemplo para outros estados que queiram seguir o mesmo caminho.
Na Coreia do Sul, um regulamento para stablecoins lastreadas em won está prestes a ser apresentado, com um projeto de lei esperado para outubro. Essa mudança busca diminuir a dependência das stablecoins dolarizadas que dominam o mercado global. Por outro lado, o Japão também avança, preparando a primeira stablecoin regulamentada em yen, com projeções de emitir quase US$ 7 bilhões em tokens.
Consolidação Empresarial e Novas Estratégias
A Ripple também está se mexendo no mercado. Recentemente, anunciou a aquisição da Rail, uma plataforma canadense de pagamentos, por US$ 200 milhões. Essa movimentação vai integrar várias funcionalidades ao portfólio da Ripple, fortalecendo sua presença nas transações empresariais com stablecoins.
Além disso, a Ripple está buscando por uma licença bancária nos EUA, uma estratégia que pode permitir que os grandes nomes do cripto se estabeleçam ainda mais na arena financeira tradicional.
Standard Chartered e o Modelo de Parceria
Um exemplo interessante de colaboração entre diferentes setores é a joint venture entre o banco Standard Chartered e a Animoca Brands, chamada Anchorpoint. Essa parceria buscará a licença para emitir stablecoins sob a nova regulação de Hong Kong, mostrando que bancos globais veem as stablecoins como uma oportunidade de negócio verdadeira e não apenas como uma moda passageira.
Transformação através do GENIUS Act
Uma das discussões acaloradas sobre o GENIUS Act é a proibição de stablecoins que oferecem rendimento direto. Essa medida busca garantir que essas moedas sirvam apenas como meio de pagamento, sem competir com produtos bancários tradicionais. No entanto, alguns especialistas acreditam que essa restrição pode acelerar o fluxo de capital para ativos tokenizados do mundo real.
Essas restrições podem direcionar bilhões em stablecoins para plataformas que oferecem conversões em tempo real. Empresas como BlackRock e Franklin Templeton já estão lançando fundos tokenizados, trazendo uma alternativa interessante e segura para geração de renda.
Projeções de Crescimento
As projeções sobre o futuro das stablecoins variam bastante. O JPMorgan, por exemplo, apresenta uma visão mais cautelosa, prevendo que até 2028 o mercado possa crescer para US$ 500 bilhões. Já o Secretário do Tesouro, Scott Bessent, acredita que uma regulação clara pode ampliar o mercado para US$ 2 trilhões na próxima década.
Dados da Fireblocks indicam que, embora os provedores de pagamentos representem apenas uma fração dos clientes, eles são responsáveis por uma parte significativa das transações de stablecoins, com um crescimento bem substancial a cada trimestre.
Estamos vivendo uma transformação que vai além da tecnologia. Ela sinaliza uma reestruturação da infraestrutura financeira global, onde a capacidade de processar trilhões em transferências anuais já supera grandes sistemas de pagamento tradicionais. A interação entre governos, empresas e o setor financeiro tradicional aponta para um futuro em que as stablecoins terão um papel crucial na definição da economia digital.