Drex preserva o passado em vez de representar o futuro do dinheiro
O Banco Central (BC) divulgou recentemente que o Drex, a nova moeda digital brasileira, vai tomar um caminho diferente. A decisão de deixar de lado a tecnologia blockchain se deve às dificuldades que os consórcios enfrentaram em garantir privacidade e conexão durante os testes. Isso levanta questões sobre as escolhas feitas pela autoridade monetária na criação da moeda.
Com essa mudança, a versão inicial do Drex, que deverá ser lançada em 2026, será centralizada e não usará duas características fundamentais do universo cripto: a tokenização de ativos e o registro distribuído. Ricardo Santos, que é engenheiro e CEO da Mansa, critica abertamente essa decisão. Para ele, o Drex não apresenta um novo futuro para o dinheiro, mas sim uma tentativa de manter o que já existe. Ele afirma que essa alteração indica que o projeto não consegue oferecer as promessas de privacidade, interoperabilidade e segurança desejadas.
Ricardo, que fez parte do grupo que desenvolveu a blockchain para o piloto do Drex, compartilha sua experiência no mercado financeiro. Ele decidiu se juntar à Mansa após perceber que o mercado precisava de soluções que realmente conectassem as pessoas a capital de forma rápida e segura, algo que o Drex, segundo ele, não está fazendo. O ponto é que o problema vai além da tecnologia, abrangendo também a falta de relevância do projeto no contexto global. Apesar do Brasil ser um país inovador com o Pix, o Drex corre o risco de ser visto como uma “falha bem planejada”, sem apelo exterior.
A falta de atenção ao projeto é evidente pela ausência de conexão com blockchains públicas relevantes e protocolos de finanças descentralizadas. Isso se agrava com a retirada de grandes empresas de tecnologia, como a Microsoft, do projeto. Para Santos, o que acontece com o Drex é que ele foi estruturado como um “silo”, limitado e sem conexões que poderiam atrair desenvolvedores e nações. Ele alerta que se isso continuar, o Draex poderá solidificar um modelo ineficiente que dificultará a integração do Brasil no cenário financeiro global.
Isolamento e Obstruções Tecnológicas do Drex
Ricardo Santos saiu da Parfin por acreditar que havia uma carência de soluções que verdadeiramente conectassem capital a quem precisa. Com a Mansa, ele quer usar a inovação das finanças descentralizadas para resolver a questão da liquidez, especialmente em pagamentos internacionais.
Ele critica a construção do Drex como uma “intranet financeira estatal”, uma rede fechada que não dialoga com a internet aberta das blockchains. Isso significa que desenvolvedores externos não podem contribuir com inovações, limitando muito o potencial do sistema. A privacidade é outro ponto fraco, já que a transparência nas transações pode se tornar um problema. Para se proteger disso, são necessárias camadas artificiais de privacidade, o que pode comprometer a funcionalidade do sistema.
O fato de o Brasil não se engajar em projetos internacionais é uma escolha do BC que, segundo Santos, prejudica a participação do Brasil nos padrões financeiros globais. Em vez de ser protagonista, o país fica em uma posição de consumidor de tecnologia.
Santos menciona a questão dos tokens de depósito. Cada banco emitirá seu próprio token, o que quebra o princípio de fungibilidade da moeda e cria um cenário em que diferentes versões do mesmo dinheiro têm impactos distintos na liquidez e valor. Isso traz riscos adicionais, principalmente considerando que esses tokens são lastreados por ativos relativamente ilíquidos.
Drex como Evolução do Pix — Monopólio, Controle e Centralização
Embora o Pix seja elogiado como um sucesso inovador, Santos assinala que sua criação foi forçada mediante regulação obrigatória. Todos os bancos participaram desde o início, o que, segundo ele, não prova a superioridade do sistema, apenas confirma a centralização do controle.
Ele observa que a China, enquanto implementa sua própria agenda, permite que empresas privadas liderem a inovação em finanças, um contraste com a abordagem do Brasil. Segundo Santos, o estado do Drex ainda é um alerta, já que a centralização e o controle excessivo podem exacerbar os riscos sistêmicos existentes.
A segurança também é um ponto alinhado para Santos, pois incidentes recentes no sistema financeiro nacional revelaram fragilidades. No caso do Drex, essas vulnerabilidades não só persistiriam, mas poderiam ser amplificadas com o uso de um sistema blockchain, que não permite erros. Além do mais, com a introdução de lógicas automatizadas, o risco de falhas se torna ainda mais crítico.
Modelos Alternativos e Oportunidades Perdidas
Ricardo Santos acredita que o ideal seria incentivar stablecoins lastreadas em títulos do Tesouro, que poderiam trazer o real para a economia digital sem comprometer a segurança e a liquidez do sistema. Esse modelo aproximaria o Brasil das oportunidades de investimento global, além de facilitar o uso no comércio exterior.
Além disso, ele argumenta que a estrutura de stablecoins poderia abrir portas para inovações em finanças descentralizadas e fintechs, permitindo um aumento significativo na eficiência. Essa proposta não exigiria uma sobrecarga sobre o estado, pois o governo teria um papel regulatório, definindo regras para emissores.
Santos destaca a quantia de oportunidades perdidas, sugerindo que o Brasil está se isolando em um modelo que pode levar a uma fuga de capital e novas oportunidades. As grandes gestoras estão já criando soluções tokenizadas e explorando o potencial das stablecoins.
Por isso, enquanto o Drex se mantém encravado, muitas empresas brasileiras já se utilizam de soluções estrangeiras, como USDC e USDT, para conduzir seus negócios no exterior. Elas não estão esperando pelo Drex, pois o mundo não vai parar por conta de um sistema centralizado que não organiza a inovação de forma eficiente.
Santos ressalta que, para que o Brasil não perca sua relevância, é preciso repensar a estratégia e se inserir de forma mais aberta e conectada no cenário financeiro global.
As ideias estão lançadas, e agora só o tempo dirá qual será o caminho escolhido pelo Brasil na era digital.