Especialista prevê divisão de preços do bitcoin como no dólar blue
O ex-diretor de estratégia da Blockstream e atualmente à frente da Jan3, Samson Mow, trouxe à tona uma preocupação bem interessante sobre o bitcoin. Ele alerta para uma potencial divisão de preços que poderia surgir, parecida com a situação do dólar na Argentina.
Na visão de Mow, o bitcoin é um ativo digital que, quando bem guardado, não deve depender de governos ou empresas. Mas, com a recente popularidade dos ETFs de bitcoin, a conversa ganhou novos rumos. Mow destaca que a operação desses ETFs pode criar uma separação entre o bitcoin “aprovado” e aquele livre, que cada um mantém sob sua própria custódia.
Ele explica: “Se isso acontecer, poderemos ver dois preços, como as taxas duplas do dólar na Argentina.” Isso significa que poderíamos ter um preço para o bitcoin que está ligado aos ETFs e outro para o que está nas mãos do usuário comum.
Cotação do bitcoin pode ter divisão como o Dólar na Argentina?
Na Argentina, a cotação do dólar é um tópico complicado. No ano de 2023, por exemplo, a BBC destacou que o país tinha nada menos que seis tipos diferentes de dólar circulando na economia. Isso inclui o dólar poupança, o blue, o cartão, o turista, o dólar bolsa e o CCL. O país enfrentou uma inflação intensa e, para se proteger, os argentinos começaram a calcular seus bens em função do dólar americano.
Além disso, os governos anteriores impuseram várias restrições para conter a entrada do dólar na economia, o que gerou essa diversidade nas taxas. Atualmente, a administração do presidente Javier Milei tenta descomplicar essa situação, permitindo a entrada do dólar de forma mais fluida.
Nesse cenário, a adesão a criptomoedas, especialmente as lastreadas no dólar, também aumentou, com o USDT se destacando como uma das mais populares. Para Mow, essa separação de preços do bitcoin não é apenas uma possibilidade remota, mas algo que pode ocorrer, embora ele não veja isso como uma ameaça à essência do bitcoin. Afinal, sua natureza sempre foi operar fora dos limites tradicionais.
Ele explica ainda: “Bitcoin dentro do sistema financeiro é uma construção arbitrária. O que realmente importa é que o bitcoin flui livremente, fora do controle de ninguém. Pode ser que parte do bitcoin fique presa em ETFs ou em reserva estatal, mas sabemos que haverá sempre uma quantidade que não se sujeita a esses instrumentos.”
Mow acredita que, mesmo que essa separação aconteça, isso não representaria um risco existencial. Em sua visão, o futuro pode reservar dois valores diferentes para o bitcoin, assim como a Argentina vive com seus diferentes preços do dólar.