O debate sobre a governança do Zcash voltou à tona recentemente, e a discussão ganhou força após uma votação de rotina. O cerne da questão é se a criptomoeda, conhecida por sua ênfase em privacidade, deve continuar com um sistema baseado em comitês ou migrar para a votação direta dos detentores de tokens.
O cofundador do Zcash, Zooko Wilcox, deu início ao assunto ao pedir apoio a Artkor, um veterano da comunidade Zcash e membro do Comitê de Doações da Comunidade Zcash (ZCG), que busca a reeleição para o próximo ano. Para Wilcox, o sistema atual é valioso, formado por pessoas independentes que, apesar de suas diferenças, compartilham a mesma missão.
A governança do Zcash funciona através de um painel consultivo chamado ZCAP, que tem a responsabilidade de votar em questões importantes e escolher o comitê encarregado de alocar doações. Wilcox descreveu esses membros como “pessoas ponderadas” que têm como objetivo comum o sucesso do projeto.
A discussão ganhou ainda mais intensidade quando Naval Ravikant, cofundador do AngelList, entrou na conversa. Ele criticou o modelo atual, afirmando que “é obsoleto e deveria ser descontinuado.” Para ele, depender de terceiros, mesmo que confiáveis, é um risco de segurança e não faz sentido, já que a governança deve ser direta e privada.
Uma Voz na Comunidade
Vitalik Buterin, cofundador da Ethereum, também se manifestou sobre o tema. Ele pediu à comunidade Zcash que não adotasse um modelo de votação por tokens. Buterin expressou preocupações com o futuro da privacidade da criptomoeda, citando que ela poderia se deteriorar se a responsabilidade fosse deixada nas mãos do “votante mediano”.
Ele argumentou que a votação baseada em tokens, apesar de parecer neutra, tende a concentrar o poder nas mãos de poucos grandes detentores, o que pode levar a decisões influenciadas apenas por interesses financeiros de curto prazo. Essa concentração de poder pode comprometer a sustentabilidade a longo prazo e os valores centrais da comunidade.
O Impacto do Mercado
A questão do preço das criptomoedas também entrou em cena. Artkor mencionou em sua postagem que “o contexto de preços mudou significativamente” com a recente valorização do Zcash (ZEC). Embora isso possa trazer novas oportunidades, Artkor alertou que também pode gerar desafios. O maior risco é começar a gastar com mais facilidade, o que pode testar o compromisso da comunidade com suas prioridades.
Os defensores do modelo atual acreditam que um comitê bem escolhido garante continuidade e uma filtragem responsável das propostas. Por outro lado, os críticos temem a possibilidade de uma estrutura que concentre influência e poder em mãos erradas. Segundo Lucien Bourdon, analista da Trezor, a votação por tokens pode expor protocolos a riscos de captura por agentes bem financiados.
Bourdon ressalta que isso pode levar a decisões mal informadas e manipulação, mesmo que a intenção seja aumentar o engajamento. Um comitê de confiança pode fornecer uma governança mais consistente, mas também corre o risco de se distanciar da base de usuários. A verdade é que nenhum modelo é perfeito e os sistemas sustentáveis geralmente se baseiam em uma combinação de responsabilidade e mecanismos para evitar a captura.
Nesse cenário, o preço do ZEC estava em queda, refletindo um movimento do mercado que afetou a capitalização total do setor de criptomoedas, que caiu para menos de US$ 3 trilhões. A discussão sobre a governança do Zcash segue em aberto, com muitas vozes clamando por um formato que equilibre as necessidades de todos os envolvidos.
